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March 8, 2011

Anarquismo Insurrecionário – Organizando para o ataque!

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” A partir de certo ponto adiante, não há volta. Este é o ponto que deve ser alcançado.”
-Franz Kafka.

Para nós anarquistas as questões de como agir e como organizar estão intimamente ligadas. E é estas duas questões, não a questão do desejo de uma futura sociedade, que nos abastece com o mais frutífero método de entendimento das várias formas de anarquismos que existem.

O anarquismo insurrecionário é um dessas formas, apesar de ser importante enfatizar que o anarquismo insurrecionário não forma um bloco unificado,  mas é extremamente variado em suas perspectivas. O anarquismo insurrecionário não é uma solução ideológica para os problemas sociais, nem um produto no mercado capitalista de ideologias e opiniões. Antes disso é uma prática contínua visando por um fim na dominação do Estado e na continuidade do capitalismo, o que requer analise e discussão para avançarmos.

Historicamente , a maioria dos anarquistas, exceto aqueles que acreditavam que a sociedade poderia chegar a um ponto onde deixaria o estado para trás, tem acreditado que alguma forma de atividade insurrecionária seria necessária para transformar radicalmente a sociedade. Mais simplesmente, isto significa que o estado deve ser destruído pelos explorados e excluídos, portanto os anarquistas devem atacar. Esperar que o estado desapareça é derrota.

Neste texto explicaremos algumas implicações que nós e outros anarquistas insurrecionários temos esboçado de problema em geral: se o Estado não irá desaparecer por si mesmo, como então colocaremos um fim a sua existência? O anarquismo insurrecionário é principalmente uma prática, e é focada na organização do ataque.
Portanto, o adjetivo ‘insurecionário’ não faz alusão a um modelo de futuro. Anarquistas que acreditam que temos que passar por um período inssurecionário para livrar o mundo das instituições de domínio e exploração, além de tudo, tomam variadas posições sobre os aspectos de uma sociedade futura – podem ser anarco-comunistas, individualistas ou primitivistas, por exemplo. Muitos recusam em oferecer um modelo específico de futuro singular ou específico, acreditando que as pessoas irão escolher uma variedade de formas sociais para organizarem a si mesmos quando tiverem a chance. Anarquistas insurrecionários são críticos daqueles que acreditam ser os “portadores da verdade” e tentam impor suas soluções formais e ideológicas ao problema da organização social. Em vez disso muitos anarquistas insurrecionários acreditam que é através da auto-organização da luta que as pessoas irão aprender a viver sem as instituições de dominação.

Existe um outro uso mais especifico do termo ‘insurrecionário’ – um que vem da distinção feita por Max Stirner, um filosófo e individualista alemão do século XIX, entre a insurreição e a revolução. (1) Para Max Stirner, revolução implica em uma transição entre dois sistemas, enquanto que a insurreição é uma revolta que começa do descontentamento individual com sua própria vida e através disso o individuo não procura construir um novo sistema  , mas cria as relações que ele deseja. Ambas as concepções em geral têm informado o anarquismo insurrecionário.

Neste artigo iremos primeiramente explorar algumas implicações gerais destes dois contextos de insurreição. E então, como estas idéias tem crescido  da pratica da luta e da experiência concreta, iremos explicar estas idéias adiante colocando-as num contexto histórico de seu desenvolvimento.
Enquanto os anarquistas insurrecionários são ativos em muitas partes do mundo no momento, somos particularmente influenciados pelas atividades e escritos dos anarquistas insureccionários da Itália e Grécia, que são os países onde os anarquistas insurrecionários estão mais ativos. A atual cena e extremamente variada do anarquismo insurrecionário italiano, que se concentra ao redor de numerosos espaços ocupados e publicações, existe como uma rede informal levando suas lutas para fora de toda organização formal. Esta tendencia tem levado o termo ‘anarquistas insurecionários’ como uma forma de se diferenciar da Federação Anarquista Italiana; uma organização plataformista que rejeita oficialmente os atos individuais de revolta, favorecendo apenas as ações de massas e uma pratica educacional e evangelizadora centrada em propaganda em ‘períodos não revolucionários’ – e também dos municipalistas libertários italianos (2), cujo toma a atividade anarquista como um processo extremamente reformista.

O Estado não irá definhar, como parece para muitos anarquistas que vem a acreditar nessa possibilidade –  alguns estão seguros numa posição de espera, enquanto outros abertamente condenam os atos daqueles que acreditam que a criação de um novo mundo depende da destruição do velho. Atacar é a recusa da mediação, da pacificação, do sacrifício, da acomodação, e da negociação da luta. É através do ataque que se aprende a atacar. Esperar apenas ensina esperar; na ação se aprende a agir. Ainda que seja importante notar que a força de uma insurreição é social, e não militar.
A medida para avaliar a importância de uma revolta generalizada não é o conflito armado, mas ao contrário, é a extensão da paralisia da economia, da normalidade. Se os estudantes continuarem a estudar, se os trabalhadores e funcionários de escritório continuarem a trabalhar, o desempregado unicamente se esforçando em arranjar emprego, então a mudança não será possível.  Podemos olhar como inspiração os exemplos de maio de 1968 em Paris, na Itália na decáda 1970, ou mais recentemente a insurreição na Albânia. (3)

A sabotagem e outros “ataques modestos”

Como anarquistas, a revolução é nosso constante ponto de referencia; não importa o que estamos fazendo ou qual problema estamos envolvidos. Mas a revolução não é simplesmente um mito para ser usado como um ponto de referencia, a revolução não deve ser tomada como um evento abstrato no futuro. Exatamente porque a revolução é um evento concreto, é necessário construí-la diariamente através de ataques modestos que não possuem totalmente as características libertadoras de uma revolução social em seu sentido real. Estes ataques modestos são insurreições. Nestes ataques a revolta dos mais explorados e excluídos da sociedade e da minoria politicamente informada abrem caminho para o possível envolvimento das variadas seções dos explorados em um fluxo de rebelião que pode levar a revolução. Durante o ultimo ano, temos visto o inicio deste processo ocorrendo na Argentina.
Contudo as lutas devem ser desenvolvidas em ambos termos intermediários e a longo tempo. E outras palavras, é possível e necessário intervir nas lutas intermediárias, isto é, nas lutas que estão definidas, mesmo localmente, com objetivos precisos que nascem de algum problema específico. Isto pode ser por ações-diretas na resistência contra a construção de uma base militar ou prisões; lutas contra as instituições da propriedade, como por exemplo ocupações e greves de aluguel; ou atacando projetos particularmente capitalistas, tal como ferrovias de alta velocidade, plantações genéticamente modificadas, ou linhas de transmissão de energia. Isto não deveria ser considerado de importância secundária; tais tipos de lutas também perturbam o projeto universal capitalista.
Para estes eventos aumentarem, eles devem se espalhar; o anarquismo insurrecionário, portanto, coloca uma importância particular no distribuição e na extensão da ação, não na revolta administrada, para que nem o exercito nem a policia sejam capazes de controlar a distribuição generalizada de tais atividades autônomas. Prestando atenção em como as lutas tem espalhado tem levado a muitos anarquistas a almejarem seu foco critico na questão da organização, para onde quer que a luta centralizada esteja controlada e limitada (para entendermos isso precisa-se apenas pensar nos vários exemplos de movimentos revolucionários na América Latina que até recentemente eram controlados pelo ‘Partido’). A luta autônoma tem a capacidade de se espalhar de modo ‘Capilar’.

Por essa razão, o que o sistema teme não é os atos de sabotagem em si, mas que eles se espalhem socialmente. A incontrolabilidade em si mesma é a força de uma insurreição. Todo individuo proletarizado que dispõem mesmo dos mais modestos meios pode desenvolver seus próprios objetivos, sozinhos ou juntamente com outros. É materialmente impossível para o estado e o capital policiar o terreno social totalmente. Qualquer um que realmente quer contestar a rede de controle pode fazer sua própria contribuição pratica e teórica como ele entende apropriado. Não existe necessidade de se encaixar num papel estruturado da revolta formalmente organizada ( a revolta que é limitada e controlada por uma organização). O aparecimento da primeira ruptura  com os vínculos do controle social coincide com a propagação dos atos de revolta. A pratica anônima de libertação social pode se espalhar para todos os campos, quebrando os códigos da prevenção colocados pelo poder.

Em momentos quando as insurreições em larga escala não estão ocorrendo, pequenas ações – o que requer meios não sofisticados que estão disponíveis para todos e que são facilmente reproduzidos – são pela sua própria simplicidade e espontaneidade incontroláveis. Zombam de toda mais avançada tecnologia desenvolvida na contra-insurgência. Nos Estados Unidos, uma seqüência de incêndios em projetos ambientalmente prejudiciais, alguns reivindicados pela E.LF. (sigla em inglês para Earth Liberation Front, “Frente de Libertação da Terra”), tem se espalhado pelo país devido a simplicidade básica da técnica. Na Itália, a sabotagem em linhas de trem de alta velocidade tem se espalhado incontrolavelmente, novamente devido a qualquer pessoa poder planejar e levar adiante sua própria ação sem precisar de uma grande organização com princípios e constituição, técnica complexa e conhecimento sofisticado.

Em adição a isto, contrariando os matemáticos dos grandes partidos revolucionários, nunca é possível ver a conseqüência de uma luta especifica em progresso. Mesmo uma luta limitada pode ter as conseqüências mais inesperadas. A passagem de varias insurreições – limitadas e definidas – para a revolução nunca pode ser garantida em antecipado por qualquer método, nem alguém saber antecipadamete que as ações atuais não levaram para um futuro momento insurrecionário.

As Raízes do Anarquismo Insurrecionário

Como o anarquismo insurrecionário é uma pratica em desenvolvimento – não um modelo ideológico do futuro ou historia determinista –  os anarquistas insurrecionários não tomam o trabalho de nenhum teórico revolucionário como suas doutrinas centrais: portanto os anarquistas insurrecionários não Bakunistas por exemplo, e não sentem necessidade de defender todos seus escritos e ações.Ainda sim Bakunin foi historicamente importante para o desenvolvimento de um anarquismo que foca sua força na insurreição.  Diferentemente de Marx, quem construiu seu apoio na Primeira Internacional, dentro de uma estrutura executiva central, Bakunin trabalhou para construir um apoio para ações coordenadas embora insurreições autônomas na base, especialmente no sul da Europa. E desde os tempos de Bakunin, anarquistas insurrecionários tem sido concentrados no sul da europa.

Em resposta a Comuna de Paris de 1987 e aos conflitos da Primeira Internacional , pode-se observar a formação de conceitos de anarquismo insurrecionário. Enquanto Marx acreditava que a nova forma política da Comuna ( formas de democracia e representação) poderia levar adiante a revolução social, Bakunin argumentava que formas políticas e organizacionais tem freiado a revolução. Também de influencia para os insurrecionários posteriores, Bakunin argumentou que seriam as ações que espalharariam a revolução , não palavras.  Em 1987, Marx e seus partidários aliados aos seguidores de Blanqui – de quem o conceito de “ditadura do proletáriado” veio – para cortar Bakunin e seus apoiadores de uma conferencia especial de fins sociais revolucionários.  Como o foi colocado em  Sonviller que seria impossível ” para um sociedade livre e igualitária vir de uma organização autoritária”. Marx pejorativamente denominou a conferência de Sonvilier de “anarquista”, e aqueles que estavam na conferencia denominaram a conferencia de Londres de “Marxista” para marcar sua tentativa autoritária em controlar a Internacional. Em 1872, Marx foi bem sucedido em expulsar Bakunin da Internacional e exigiu que todos os membros da organização defendessem a conquista do poder político como pré-requisito necessário para a revolução.

A luta social e individual

Outra questão que tem causado muito debate nos círculos anarquistas é a suposta contradição entre a luta individual e a social: Novamente , esta é uma questão de organização da luta. Este é um debate que tem continuado e ainda continuará nos círculos anarquistas insurrecionários; Renzo Novatore defendia a revolta individual, Errico Malatesta a Luta social, enquanto Luigi Galleani acreditava que não existe contradição entre as duas lutas.

Novatore, Um anarquista italiano que morreu num tiroteio com a polícia em 1922, escreveu ” a anarquia não é uma forma social, mas um método de individualização. Nenhuma sociedade irá me conceder mais do que uma liberdade limitada e conforto que é permitido a cada um de seus membros “(4) Malatesta, também um italiano e um insurrecionário atuante em toda a sua vida, foi um anarco-comunitsa para quem o anarquismo foi baseado na organização do ataque da luta coletiva, especialmene do movimento trabalhista, e ainda assim , foi muito crítico de qualquer forma de organização que poderia se tornar autoritária. Esta foi a base de seu de sua divergência com os plataformistas russos – que tentaram criar uma organização revolucionária centralizada e unitária.

Malatesta criticou a proposta dos plataformistas – que tentaram por adiante seu programa em resposta a vitória dos bolcheviques na Rússia – por tentarem disciplinar e sintetizar a luta  numa única organização. Em sua critica à proposta ele afirmou, “para chegarem a seus objetivos, as organizações anarquistas devem em sua formação e operação,  permanecer em harmonia com os princípios do anarquismo; isto é, devem saber como combinar a livre ação de indivíduos com a necessidade e o prazer da cooperação que serve para desenvolver a consciência e a iniciativa de seus membros”. Enquanto muitos anarquistas sociais de hoje criticam os anarquistas insurrecionários afirmando que tais anarquistas são contra a organização como tal,  vale lembrar que a maioria dos anarquistas sociais e anarco-comunistas ativos no começo do ultimo século não viam a organização e o individualismo como uma contradição, e que poucos anarquistas tem sido contra a organização como tal.  Malatesta em sua declaração de 1927 sobre o assunto ostenta repetindo : ” Julgando por certas polêmicas pareceria que existe anarquistas que rejeitam qualquer forma de organização; mas de fato as muitas, muitas discussões sobre este tema, mesmo quando ignorada por questões como linguagem ou envenenada por questões pessoais, estão preocupadas com os meios e não com o atual principio da organização. Portanto, isto acontece quando aqueles camaradas que soam como os mais hostis à organização querem de fato fazer algo eles se organizam da mesma maneira como o resto de nós e muitas vezes mais efetivamente. o problema, repito, é inteiramente sobre meios”.(5)

Gallleani, que imigrou para os Estados Unidos em 1901 após enfrentar a prisão na Europa editou um dos mais importantes jornais anarquista italiano nos Estados Unidos, Cronaca Sovversiva, e foi critico da organização formal. Em seus artigos e falas ele unia as idéias de Kropotkin sobre apoio mútuo  com a insurgência irrestrita, defendendo o anarquismo comunista contra o socialismo autoritário e o reformismo, falando sobre o valor da espontaneidade, variedade, autonomia e independência, ação direta e auto determinação. Galleani e seus seguidores eram profundamente suspeitos quanto as organizações formais, vendo-as como possíveis de se tornarem organizações hierárquicas e autoritárias.  Desde então a critica à organização formal tem se tornado uma preocupação central para a maioria dos anarquistas insurrecionários. Galleani não via contradição entre a luta individual e a luta social, e não via contradição entre a anarquia e o comunismo. Galleani foi firmemente contra o comunismo autoritário, cujo ele observava como algo crescente entre as ideologias coletivistas – a idéia de que a produção e consumo devem ser organizados num coletivo no qual os indivíduos devem participar. Galleani foi uma das principais influências daqueles que hoje se consideram anarquistas insurrecionários.

“Por que somos anarquistas insurrecionários?
Porque consideramos ser possível contribuir para o desenvolvimento das lutas que estão aparecendo espontâneamente em todos os lugares, tranformando as lutas em insurreções de massas – o que significa revoluções efetivas.
Porque queremos destruir a ordem capitalista do mundo da qual nao é benéfica a ninguem , mas somente aos administradores da classe dominante.
Porque somos pelo ataque imediato e destrutivo contra as estruturas , indivíduos e organizações do capital, do estado e de todas as formas de opressão.
Porque criticamos construtivamente todos aqueles que estão em negociação com o poder em suas crenças de que a luta revolucionária é impossível no momento atual.
Porque no lugar de esperar, decidimos desenvolver ações, mesmo se o momento não seja oportuno.
Porque queremos colocar um fim no estado das coisas imediatamente, no lugar de esperar até que as condições façam tais transformações possíveis.
Estas são algumas das razões do porque de sermos anarquistas, revolucionários e insurrecionários.”
-Alfredo Bonanno

O debate sobre a relação entre a luta social e a luta individual, entre individualismo e comunismo, continua atualmente. Alguns anarquistas insurrecionários argumentam que a insurreição começa com o desejo dos indivíduos em romper com as circunstâncias de constrangimento e controle, o desejo de reapropriar a capacidade de criar sua própria vida da maneira que lhe convém. Isto requer que se supere a separação entre eles mesmos e suas condições de existência – alimento, habitação, etc. Onde poucos, os previlegiados, controlam as condições de existência, não é possível para a maioria dos indivíduos determinar verdadeiramente suas existências em seus próprios termos. A individualidade apenas pode florescer quando existe a igualdade do acesso  as condições de existência. Esta igualdade de acesso é o comunismo; o que os indivíduos fazem com que o acesso seja possível para eles e para aqueles ao redor deles. Caso contrário, não existiria igualdade ou a identidade individual subentendida num verdadeiro comunismo. O que nos coage em uma identidade ou em uma igualdade de existência são os papéis sociais impostos pelo sistema atual.
Portanto não existe contradição entre individualidade e comunismo.

O projeto anarquista insurrecional se desenvolve do desejo individual em determinar como se viver a sua própria vida e com quem levaremos esse projeto de auto-determinação. Mas este desejo é confrontado por todos os lados pela ordem existente, uma realidade na qual as condições de nossa existência e as relações sociais através da qual nossas vidas são criadas tem sido prontamente determinado pelos interesses das classes dominantes, que se beneficiam das atividades que nós somos compelidos a fazer para a nossa própria sobrevivência.

Portanto o desejo pela auto-determinação e auto-realização individual leva a necessidade de uma analise de classe e a luta de classe. Mas as velhas concepções trabalhistas, as quais perceberam a classe trabalhadora industrial como o sujeito central da revolução, não estão adequadas a esta tarefa. O que nos define como classe é a nossa privação, o fato de que o sistema atual de relações sociais rouba nossa capacidade de determinar as condições de nossa existência. A luta de classes existe em todos os atos individuais e coletivos de revolta onde pequenas porções de nossa vida diária são tomadas de volta ou pequenas porções dos aparatos de dominação e exploração são obstruídos, danificados ou destruídos. Num sentido significativo, não existem atos de revoltas isolados ou individuais. Todos esses atos são respostas à situação social, e muitos envolvem alguns níveis de cumplicidade, indicando um certo nivel de luta coletiva. Considere , por exemplo, a espontaneidade, em sua maioria de organizações não pronunciadas do furto de bens e a sabotagem no sistema de trabalho que continuam na maioria dos locais de trabalho; está coordenação informal da atividade subversiva carregada pelo interesse de cada individuo envolvido num principio central da atividade coletiva para os anarquistas insurrecionários, porque a coletividade existe para servir os interesses e desejos de cada individuo na reapropriação de suas vidas e muitas vezes carregam nisto um conceito de modos de relações livres de exploração e dominação.

Mas mesmo atos solitários de revolta possuem seu aspecto social e são parte da luta geral dos despossuídos. Através de uma atitude crítica direcionada às lutas do passado, as mudanças nas forças de dominação e suas variações entre diferentes lugares,e o desenvolvimento das lutas atuais, podemos fazer nosso ataque mais estratégico e direcionado. Tal atitude crítica é o que permite as lutas de difundirem. Ser estratégico, de qualquer forma não significa que exista apenas um modo de luta; estratégias claras são necessárias para permitir diferentes métodos para serem usados de uma maneira coordenada e frutífera.  As lutas individuais e coletivas não são contraditórias , nem idênticas.

Crítica da organização.

Na itália, os fracassos dos movimentos sociais na décadas de 1960 e 1970 levaram a uma reflexão do movimento revolucionário e outros o abandonarem. Durante a década de 1970 muitos grupos leninistas concluíram que o capitalismo passando pela sua crise final, e então se moveram para a luta armada. Estes grupos atacaram como revolucionários profissionais, reduzindo suas vidas a um papel social singular. Porém na década de 80 eles vieram a acreditar que o momento para a luta social revolucionária tinha acabado, e então eles reclamaram para os prisioneiros do movimento da década de 70, alguns foram ao ponto de se desligarem da luta. Isto separou eles dos anarquistas insurrecionários que acreditavam que a luta revolucionária em derrubar o capitalismo e o estado ainda continuava, por nenhuma historia determinista poder nomear o momento correto para se rebelar.  De fato, a historia determinista muitas vezes se torna uma desculpa para não agir e apenas empurra uma possível ruptura com o presente distante no impossível.

Muitas das criticas dos anarquistas insurrecionários italianos ao movimento da década de 70 focaram nas formas de organização que formaram as forças da luta e disto uma idéia mais desenvolvida de organização informal cresceu. Uma critica das organizações autoritárias dos anos 70, cujo membros muitas vezes acreditavam estar numa posição privilegiada para a luta em comparação ao proletáriado como um todo, foi refinada mais adiante nas lutas da década de 80, como por exemplo no começo dos anos 80 a luta contra uma base militar que foi abrigo para armas nucleares em Comiso, Sicilia. Os anarquistas foram bem ativos nesta luta, que foi organizada em ligas auto-gestionadas.  Para este caso, as ligas autônomas tomaram três princípios gerais para guiar a organização da luta: conflito permanente, autonomia e ataque! conflito permanente significa que a luta poderia permanecer em conflito com a construção da base até o fim sem mediação ou negociação. Estas ligas são auto-criadas e auto-geridas; recusam a delegação permanente da representação e do profissionalismo na luta.  As ligas foram organizações do ataque contra a construção da base, não a defesa dos interesses de um ou outro grupo. Este tipo de organização permite aos grupos tomarem as ações que eles consideram como as mais efetivas enquanto que ainda sejam hábeis em coordenar o ataque quando seja útil, desta forma mantém aberto o potencial da luta se espalhar. Isto também mantém o foco da organziação no objetivo do fim da construção da base no lugar da construção de organizações permanentes, nas quais a mediação com as instituições do estado para uma divisão de força comumente se torna o foco  e limita a autonomia da luta.

Assim como os anarquistas na luta de Comiso entenderam, uma das razões centrais que as lutas sociais estão impedidas de se desenvolverem numa direção positiva é a prevalência dessas formas de organização que nos podam de nossas próprias forças para agir e fecha as possibilidades de uma potencial insurreição. Estas são as organizações permanentes, as que sintetizam toda a luta numa única organização, e organizações que mediam as lutas com as instituições de dominação. As organizações permanentes tendem a se desenvolver em direção a instituições que estão acima da luta da multidão. Tendem a desenvolver uma hierarquia formal ou informal e a enfraquecer a multidão : a força é alienada de sua forma ativa na multidão e é instituída dentro da organização. Isto acaba transformando a multidão ativa numa massa passiva. A constituição hierárquica das relações de poder remove a decisão de um momento quanto tal decisão é necessária e a coloca dentro da organização. Decisões que seriam feitas por aqueles envolvidos numa ação são transferidas para a organização; além do mais, as organizações permanentes tendem a fazer decisões não baseadas na necessidade de uma ação ou objetivo especifico, mas nas necessidades da organização, especialmente em sua preservação. A organização se torna um fim em si mesma. Basta olhar para as atividades de muitos partidos socialistas para ver isto em sua forma mais ostensiva.

Como a organização se move em direção a permanência e vem a se colocar acima da multidão, o organizador aparece – muitas vezes reivindicando ter criado a luta -e começa a discursar para as massas. è o trabalho do organizador em transformar a multidão em uma massa controlável e a representar as massas para a mídia ou instituições do estado.  Os organizadores raramente consideram a si mesmos como parte da multidão, portanto eles não vêem a multidão como força para agir, mas para a propaganda e organização, para isso é as massas que agem.

A opinião Fabricada

Para os organizadores, aqueles que tomam como lema ” apenas o que aparece na mídia existe”, a ação real sempre toma um ar de inferioridade para a manutenção da imagem midiática. O objetivo da manutenção de tal imagem nunca é atacar uma instituição de dominação especifica, mas para ter influência sobre a opinião pública, para a eterna construção do movimento ou, ainda pior, da organização. Os organizadores devem sempre se preocupar sobre como as ações dos outros irão refletir no movimento, eles devem, por essa razão,  tentar disciplinar a luta da multidão e tentar controlar como o movimento é representado na mídia. A imagem comumente substitui a ação pela organização permanente e o organizador.

A tentativa de controlar a imagem e a opinião-fabricada da sociedade é uma batalha perdida, como se pudéssemos sempre tentar equiparar a quantidade de imagens difundidas ela mídia ou fazê-las ‘contarem a verdade’. Portanto, muitos anarquistas tem sido extremamente críticos quanto a levar a luta com a mídia capitalista. Na Itália, isto tem colocado os anarquistas insurrecionário em disputa com organizações como o Ya Basta! que consideram a mídia como um veículo chave para seu movimento; em outras partes do mundo, a questão sobre como os anarquistas poderiam se relacionar com a mídia tem sido o foco de um debate nos anos recentes –  especialmente desde 1999 em Seattle – por isso é importante para nós apresentarmos as posições críticas de alguns anarquistas insurrecionários.

Num nível básico, devemos questionar , o que é a opinião? Uma opinião não é algo essencialmente encontrado entre o publico em geral e então, posteriormente, reproduzida através da mídia, como uma simples noticia da opinião pública. A opinião existe na mídia primeiramente. Em segundo lugar, a midia reproduz a opinião um milhão de vezes, relacionando a opinião a certos tipos de pessoas ( conservadores pensam X, liberais pensam Y). em terceiro, como Alfredo Bonanno colocou “(uma opinião) é uma idéia alisada, uma idéia que foi uniformizada de maneira que a faça aceitável para um grande número de pessoas. Opiniões são idéias massificadas.”(6) A opinião pública é produzida como uma série de escolhas e soluções simples ( ” Eu sou favoravél a globalização e pelo livre comércio” ou “Eu sou favorável ao controle nacional e ao protecionismo”). Somos todos esperados a escolher – assim como escolhemos os lideres ou nossos hamburgueres – no lugar de pensarmos por nós mesmos. Portanto é obvio que os anarquistas  não podem usar a fabrica de opinião-feita para criar uma contra-opinião, e esperançosamente os anarquistas deveriam nunca querer operar no nível da opinião , mesmo se pudéssemos de alguma maneira exercer controle sobre o conteúdo vomitado pelos portões da fabrica. De qualquer maneira, a ética do anarquismo nunca poderia ser comunicada na forma de opinião; morreria , uma vez massificada. Ainda porque, é exatamente no nível da opinião que os organizadores trabalham, a opinião e a manutenção da imagem são as ferramentas do poder, ferramentas usadas para modelar e disciplinar a multidão em massas controláveis.

No lugar de se direcionar ao poder e a tomada de decisão em uma organização, a maioria dos anarquistas insurrecionários reconhecem a necessidade  de se organizar num modo que não possua a formalidade e a autoridade que separa os organizadores desorganizados; estas forma é chamada organização informal. Devido a natureza dos organizadores em controlar e planificar, muitas vezes eles priorizam a perpetuação da organização acima dos outros objetivos. A organização informal, por outro lado, se dissolve quando o objetivo é alcançado ou abandonado; não se perpetua a si mesmos meramente para ao beneficio da organização se os objetivos que causaram a organização das pessoas tem cessado de existir.

Como no caso das ligas de Comiso, a organização informal é um meio para que os grupos de afinidade possam coordenar esforços quando necessário. devemos sempre nos lembrar de que muitas coisas podem ser feitas mais facilmente por um grupo de afinidade ou por um individuo, nestes casos, grandes níveis de organização apenas faz o processo da tomada de decisão ser embaraçoso – insto nos sufoca. A menor quantidade de organização necessária para alcançar um objetivo é sempre o melhor para maximizar nossos esforços.

As organizações informais devem ser baseadas na ética da ação autônoma; a autonomia é necessária para evitar que nossas forças ativas se tornem alienadas, para prevenir a formação de relações de autoridade. Autonomia é a recusa em obedecer ou dar ordens, o que é sempre gritado do alto ou além da situação. A autonomia permite as decisões serem feitas quando elas são necessárias, no lugar de serem predeterminadas ou aguardadas pela decisão de um comitê ou reunião. Isto não significa dizer entretanto que não deveríamos pensar estratégicamente sobre o futuro e fazer consenso ou planos. Ao contrário, planos e consenso são úteis e importantes. O que é enfatizado é a flexibilidade que permite as pessoas a descatarem planos quando eles se tornam inúteis.  Planos devem ser adaptáveis aos eventos de acordo com seu desdobramento.

Como uma organização informal deve ter uma ética de autonomia ou então será transformada em uma organização autoritária, para evitar a alienação de nossas forças ativas, também devem ter uma ética de não negociar os objetivos da organização.

Os objetivos da organização poderiam ser abandonados ou levados adiante. Negociar com aqueles que nós nos opomos (ou seja, Estado e corporações) anula qualquer oposição real, reduz nosso poder de ação com o dos nossos inimigos.

As migalhas jogadas por aqueles que nós nos opomos  para nos abrandar e distrair devem ser recusados. Negociar com qualquer instituição de dominação ( o Estado, a policia, WTO, FMI, ‘O Partido’, etc) é sempre a alienação de nossa força que nós supostamente desejávamos destruir; este tipo de negociação resulta na perda do nosso poder de agir decisivamente, de fazer decisões e ações quando decidimos. Como tal, negociar faz apenas o estado e o capital mais fortes. Para aqueles que desejam abrir a possibilidade da insurreição, para aqueles que não desejam esperar por uma suposta condição material apropriada para a revolução, para aqueles que não uma revolução que é meramente a criação de uma nova estrutura de poder, mas querem a destruição de todas as estruturas de poder que alienação nossa  força de nós, a negociação é contrária aos seus objetivos. Recusar continuamente a negociação é estar em conflito perpétuo com a ordem estabelecida e suas estruturas de dominação e pobreza.

Solidariedade Revolucionário

A solidariedade revolucionária, uma outra pratica central do anarquismo insurrecionário, nos permite ir para além do estilo de solidariedade “mande um cheque” que é tão penetrada na esquerda, assim como a solidariedade que permanece em petições ao estado ´para assistência ou piedade. Um exemplo de solidariedade revolucionária foi a ação de Nikos Maziots contra a empresa mineradora TVX Gold, em dezembro de 1997. (7) Muitas pessoas dos vilarejos ao redor de Strymonikos ao norte da Grécia estavam lutando contra a instalação de uma usina mineradora em sua área. Em solidariedade com os aldeões, Nikos colocou uma bomba no Ministério da Indústria e Desenvolvimento  que seria detonada quando o edifício estivesse vazio; infelizmente, isto não veio a acontecer. Nikos foi condenado a 50 anos de prisão , mas agora está em liberdade. A TVX Gold é uma multinacional sediada no Canadá, Existem muitos pontos onde a solidariedade revolucionaria com os aldeões de Stryminikos poderia ser permitida. Conseguir fundos para um camarada é necessário e certamente apreciável, mas isto pode ser unido com formas mais ativas de solidariedade com aqueles que lutam contra nosso inimigo em comum.  A solidariedade revolucionária transmite o elo entre a exploração e repressão de outros e nos apropria destruição, e mostra as pessoas os pontos que o capitalismo e o estado operam em modos similares e em lugares bem diferentes. Pela criação de relações entre lutas contra o capital e o Estado, a solidariedade revolucionária tem o potencial de tomar nossas lutas locais num nível global.

Além disso, a solidariedade revolucionária é um ataque ativo; sempre envolve a recuperação de nossa própria força ativa que multiplica em combinação – na solidariedade – com as forças ativas de outros. Muitos anarquistas insurrecionários têm se envolvido na resistência contra o regime de prisão FIES (Ficheiros de Internos de Especial Seguimento – Arquivo de Internos para Monitoração Especial) na Espanha. Isto é uma luta revolucionária porque não é almejado uma mera reforma, mas seu objetivo ultimo é o desaparecimento de todas as prisões, o que envolve uma mudança social radical.  è uma luta auto-organizada, na qual não existe nenhum líder ou representantes, nem destro das prisões nem fora, mas apenas a solidariedade que cresce entre as exploradas de dentro e de fora do muro.

Umas das principais forças da organização informal é que ela permite ao anarquistas intervirem em lutas imediatas ou específicas sem negociar os princípios ou exigindo uniformidade da ação e política. Lutas organizadas informalmente podem ser compostas por grupos de afinidade com perpectivas políticas diferentes. Algumas pessoas desejam abrir a possibilidade para a insurreição, enquanto outros estão apenas preocupados com um objetivo imediato. Não existe razões para aqueles que compartilham um alvo pratico imediato mas divergem em seus objetivos de longo termo não possam se unir. Por exemplo, um grupo anti-engenharia genética (EG) poderia se formar e decidir coordenar poderia arrancar e destruir uma plantação teste e circular panfletos anti-EG. Neste caso aqueles que querem uma ruptura insurrecionária com esta ordem social e aqueles que meramente odeiam a engenharia genética poderia facilmente trabalhar juntos para este objetivo imediato. Grupos que tomam um caminho mais insurrecionário para a ação, de qualquer forma, muitas vezes acabam em conflito com outros grupos que trabalham em questões similares. A Frente de Libertação da Terra uma iniciativa organizada informalmente de grupos que tem tomado uma posição de ataque contra aqueles que consideram destruidores da Terra, tem sido difamados pelo movimento ambiental em voga. Ao mesmo tempo, eles podem provavelmente serem críticados por muitos anarquistas insurrecionários por focarem defensivamente na proteção da terra e ignorar o aspecto social da revolução. O que é importante para permitir que diferentes grupos trabalham é a co-ordenação com autonomia.

Para aqueles que desejam abrir a possibilidade de insurreição, tal cooperação não irá fechar as portas para seus sonhos. A organização informal, com sua ética de autonomia e não-negociação, não controla a luta, e o incontrolavel abre a possibilidade para uma ruptura insurrecionária com a ordem social presente.

Notas:
1- Ver O ùnico e Sua Propriedade, Max Stiner
2- Anarquistas que geralmente viram as costas para a ação direta e usa a politica local para tentar ganhar reformas e estabelecerem cidades “controladas de forma anarquistas”.
3-Ver Albânia: Laboratory of Subversion by Anonymous (Elephant Editions, London, 1999)
4- A Strange and Outcast Poet: The Life and Writings of Renzo Novatore (Venomous Butterfly Publications) : http://www.geocities.com/kk_abacus/vbutterfly.html
5-Um Projeto de Organização , por Errico Malatesta (1927).
6- A tensão Anarquista, por Alfredo M Bonanno.
7-Quando Nikos foi preso, recusou a reconhecer a autoridade de todo o sistema legal. Ele fez uma declaração anarquista radical à corte durante seu julgamento, dando razões para a bomba, e explicando seu ódio insurrecionário pelo Estado e Indústria.

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